Primeiro, quero agradecer a tua visita ao Ser Poeta e desejar-te um Ano Novo Espectacular.
Segundo, desejo reforçar uma mensagem que venho repetindo ao longo dos anos, em diferentes meios:
Interpretar um poema, ou encontrar um significado que faça sentido para mim, é um acto individual. Acreditem que, tive a minha quota de problemas escolares quando decidia interpretar poesia à minha maneira e, no entanto, não aprendi a delegar a significância a ninguém.
Cada pessoa encontra nas suas vivências aquilo que o faz interpretar algo à sua maneira. Nenhum significado é melhor, ou mais correcto, do que outro. Cada visão, sobre um poema, é pessoal e deve ser encorajada como tal.
Para que não mais se ouça “eu não entendo”, quando se fala de poesia. Cada pessoa entende à sua maneira, e há sempre espaço para alargar aquilo que se entende, desde que não se exclua o indivíduo que somos logo à partida.
Sim, os estudos formais apresentam as suas versões mais, ou menos, consubstanciadas daquilo que um conjunto de especialistas acreditam ser certos significados de um poema.
No entanto, usar essa crença para afastar a poesia de uma pessoa dita normal, não me parece correcto. Assim, o poema significa o que entendemos nele e podemos, sempre, acrescentar algo ao que sabemos. No entanto, é o quanto ele fala connosco, o quanto nos revemos no que ele diz, que torna um poema num favorito.
Por isso, continua a ler poesia que fala contigo. Quanto à crítica? Que se faça silêncio.
o poema…
Este é um excerto de um poema de Fernando Pessoa, na voz do seu heterónimo Ricardo Reis.
De 18-6-1930 em Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). – 122, em Arquivo Pessoa
o significado…
Um ano tem doze meses. Um ano é breve, passa depressa, assim como a vida é breve e passa depressa. E, pouco falta, na floresta dos números, para podermos chegar ao futuro. O próprio poeta já vive dois terços da sua vida e sabe que se encontra a caminhar para o fim desta. Tal como o ano, também a sua vida passou depressa. E, essa vivência em declínio, o aproximar do fim da vida, vem depressa e é-lhe imposto. Ele não escolheu viver depressa ou ver a vida acabar. Como caminha num declive, o que o faz apressar o passo, mesmo não querendo fazê-lo, a verdade é que é um convite a apressar-se. Enquanto vive, passa o moribundo. Aquele que será, num futuro próximo.
o poeta…
Fernando Pessoa, o mais conhecido poeta português. Aquele, cuja obra é Património da Humanidade. A mais estudada, monetizada e mercantilizada figura nacional.
Sob o heterónimo (verdadeiras identidades separadas do homem que ele era, e da poesia que escrevia sob o seu nome) Ricardo Reis, surge este poema sobre o ano novo, a vida e a morte. Muito há para dizer sobre Fernando Pessoa, mas pouco há que não tenha já sido dito ou escrito.
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Referências:
- Ode completa no Canal de Poesia
- Arquivo Pessoa: Obra Édita
- Programa RTP Ensina: Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa
- Ricardo Reis na Wikipédia
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